sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Museu da Cortiça de Silves em risco

Museu da Cortiça de Silves em risco


''Em baixo, divulgamos uma declaração da direcção da Comissão Nacional Portuguesa do ICOM sobre a situação em que se encontra o Museu da Cortiça de Silves.

Em Defesa do Museu da Cortiça de Silves

A Direcção da Comissão Nacional do ICOM (Conselho Internacional dos Museus) tem vindo a acompanhar, com preocupação crescente, a situação vivida pelo Museu da Cortiça, situado no perímetro da chamada Fábrica do Inglês, em Silves.

Segundo notícia da imprensa, o empreendimento comercial em que o mesmo Museu se insere, designado por Fábrica do Inglês S.A., encontra-se em situação financeira crítica, virtualmente em situação de falência. Neste contexto e não obstante a participação, mais teórica do que real, da Câmara Municipal de Silves no capital constituinte da citada sociedade comercial, o Museu da Cortiça corre o risco de encerrar, sendo imprevisível o destino a dar ao seu preciosíssimo acervo.

A acontecer, esta situação constituirá um exemplo sem precedentes no nosso País, o qual causa a maior perplexidade, tanto mais que o referido projecto e museu foram durante alguns anos apresentados como exemplos paradigmáticos de uma nova modalidade de articulação entre as finalidades colectivas e as conveniências privadas, na gestão de acervos museológicos unanimemente reconhecidos como de interesse público. Recorde-se a propósito que o Museu da Cortiça de Silves, recebeu o prémio de Museu Europeu do Ano, em 2001, tendo o júri referido precisamente o carácter englobante do projecto.

Importa-nos sobremaneira salientar o interesse público que está em causa: o Museu da Cortiça é detentor de um acervo, seja na vertente de instalações equipamentos industriais em exposição, seja na vertente de arquivo documental em reserva, que nenhuma forma pode ser alienado do uso público e muitos menos desbaratado, por desmembramento, venda ou abandono. As autoridades de tutela do património industrial e dos museus, tanto a nível nacional como sobretudo a nível municipal, instituem-se perante o País como garantes da salvaguarda deste acervo, devendo os seus titulares ser pessoalmente responsabilizados pelos actos ou omissões que pratiquem neste contexto.

Os organismos do Estado e os seus agentes têm de actuar como pessoas de bem. O que significa respeitar escrupulosamente a garantia da perenidade dos acervos que constituem memória colectiva. Não se trata sequer de matérias referendáveis, tal como se não referenda a alienação de monumentos ou tesouros nacionais, por muito que a sua manutenção represente um encargo e a sua venda pudesse constituir um alívio momentâneo das finanças públicas. Há bens que não se vendem; há hesitações ou desinteresses que não se perdoam.

Estamos esperançados em que o bom senso prevaleça e que a presente situação crítica seja ultrapassada. E que das ameaças se façam oportunidades, o que significa neste caso adoptar as medidas que coloquem o Museu da Cortiça ao abrigo de sobressaltos equivalentes no futuro. Medidas que podem até ser relativamente simples: separar o Museu do projecto comercial no seu todo, reforçando a sua personalidade própria: entrada autónoma, regulamento interno de funcionamento, fixação de um quadro de pessoal mínimo, invertendo a situação de despovoamento em meios humanos que vinha existindo do antecedente. Impõe-se igualmente proceder no mais curto prazo ao inventário exaustivo de todo o acervo, única forma de garantia do seu controlo e da sua desejada perenidade.

Se isto for feito, o Museu da Cortiça pode regressar aos dias em que teve mais de 100 mil visitantes anuais. E a cidade de Silves pode voltar a orgulhar-se por ter um museu único, que já foi considerado o Melhor da Europa no seu género.''

A Direcção da Comissão Nacional Portuguesa do ICOM,
em 15 de Dezembro de 2009.